Qual legado você deixará quando partir?
A morte é uma das poucas certezas que em vida cultivamos. Cedo ou
tarde, jovem ou velho, rico ou pobre, todos morreremos. Não adentrarei a
discussão da vida espiritual após a morte. Apenas suscitarei uma reflexão: Qual
legado você deixará quando partir?
Entenda a partida como a
morte do corpo físico, pois não espero que você parta totalmente. Partir
totalmente representaria a ausência de legado do indivíduo nesse plano e, por
consequência, o vácuo existencial, ao menos no plano terrestre. Presumo que
esse desfecho seja nada empolgante para você, para mim ou qualquer outra pessoa.
Muitas pessoas, quando partem, deixam seus nomes impressos na
história da humanidade pela arte, outros pela ciência, outros pela projeção financeira...
São formas bem eficazes de fazer o seu nome e estratos do seu pensamento
reverberarem por muito tempo.
No entanto, nem todos são atores, escritores, cineastas, grandes
empresários, grandes filósofos, cientistas ou possuem qualquer outro posto que
os posicionem nos mais relevantes anais da história humana. Caso você se
enquadre em uma das categorias mencionadas, parabéns! Você tem grande
predisposição para deixar legados positivos para os seus companheiros de
espécie.
E se você não se enquadrar, isso não significa que deixará uma
folha em branco quando se for. Seu legado não precisa ecoar por toda a
humanidade. Porém, é preciso que ele faça sentido e inspire ao menos uma pessoa.
No ano de 2016, quando a minha tia Arnaldina partiu, deixou também
um grande sentimento de perda em meio aos seus vários amigos e familiares. A
sua partida não nos deixou incólumes. Seu nome não ficou gravado nos anais da
história humana. Mas seu legado foi deixado aos que lhe eram próximos.
Descreverei um pouco do legado deixado por Arnaldina:
Benevolência, honestidade, humildade, solicitude, caráter, serenidade...
incorporando o papel de mãe, tia, amiga ou “conhecida”; nunca se mostrou
hesitosa em distribuir sorrisos contagiantes, palavras amáveis e motivantes,
capazes de inundar o ambiente e despertar o melhor em cada pessoa que se
expusesse à sua agradabilíssima presença.
Para ser sucinto, diria que sua tônica sempre foi fé. Mas nunca
uma fé vazia. Não é muito custoso ter fé quando tudo lhe é favorável. Mas
Arnaldina sabia exercer a fé também em tempos conturbados. Palavras de
motivação dos familiares e amigos para lhe dar forças para enfrentar o câncer
pareciam ser dispensáveis: Arnaldina parecia ser a própria personificação da
motivação.
Quando seu esposo José faleceu, ela já se encontrava doente. Com
este revés cheguei a pensar que ela fraquejaria, que o sorriso que sempre
trazia estampado no rosto empalideceria e que esse golpe a colocaria prostrada
frente ao câncer. Não poderia estar mais enganado.
Não me prolongarei falando da doença que a abateu fisicamente,
para não dar a falsa impressão de que o câncer a derrotou. Isso mesmo: o
câncer jamais a derrotou. Embora ele tenha levado à morte de seu corpo, sua
fé, sua bondade, sua essência, seus bons exemplos, sequer foram arranhados e
isso tudo transcende sua morte física.
Estou convicto de que aqueles que conviveram com Arnaldina se
tornaram pessoas melhores. Talvez nem tenham se dado conta disso, pois depois
de um tempo convivendo com ela, praticar o bem se tornava algo tão natural, tão
trivial que nem nos dávamos conta de termos evoluído.
A religião católica era algo que ela exercia plenamente, algo que
ia muito além de frequentar assiduamente as missas ou exercer o ministério da
eucaristia. Conviver com ela deixou muito claro para mim que o maior
exercício da religião é o amor ao próximo.
Tia Dina, que é como eu a chamava, foi para mim mais do que um
exemplo: uma inspiração. Sempre me apoiou em todas as etapas da minha vida,
esteve ao meu lado nos momentos mais críticos, quando outros se afastariam.
Chorar no dia em que ela faleceu e no dia em que foi sepultada,
foi para mim, e para aqueles que a amavam, inevitável. Uma dor difícil de
dissipar. Um questionamento incessante e latejante ecoava na minha mente: por
que alguém tão boa teve de partir tão cedo?
Posso responder a este questionamento usando as próprias palavras
que tia Dina usou para acalmar um amigo que certo dia a visitou e que ficou
estarrecido com a debilidade do seu corpo. Naquela ocasião, ela disse: São os
desígnios do senhor. Isso mesmo, ela estava certa, são os desígnios de Deus.
Se formos usar os bons exemplos que Arnaldina deixou ao longo de
seus 60 anos de vida, devemos adotar o seu sorriso descompromissado e sua fé
incondicional. Chorar é inevitável, mas, deixemos o choro de lado e
encaremos a vida com um sorriso no rosto e com total motivação como tia Dina
sempre fez.
Seguirei tentando pautar as minhas ações nos mesmos princípios em
que ela pautava. E que a vida siga sem derramar de lágrimas, mas com o belo e
singelo sorriso que a senhora sempre trazia estampado no rosto.
Arnaldina era uma pessoa comum. Sim, acredito que sim, e espero
que o seu perfil seja bastante prosaico. Quanto mais “Arnaldinas” existirem no
mundo melhor ele será. Quanto mais pessoas encararem os percalços com os quais
nos deparamos com fé, animação, um sorriso no rosto, mais leve a vida
será. Este é parte do legado que Arnaldina deixou para os seus parentes e
amigos.
Inspire ao menos uma pessoa em vida. Ao inspirar um indivíduo, não pense que o seu legado se perderá
quando este partir. Se for um legado positivo, ecoará por outras gerações e,
embora o seu nome possa ser esquecido, a sua assinatura estará sempre presente
na vida de alguém.
5 Recados
Uma belíssima história de vida para a vida! É esse o entendimento que tiro desse belo texto que aparentemente falaria sobre morte e doença. Mas,onde há felicidade e o sorriso é uma constante, a tristeza é uma variável que não prevalece. Por mais desesperadora que a ocasião pareça ser, nunca perca o seu tom radiante e sorriso de felicidade! Encontre a felicidade em momentos difícil também ou ao menos não deixe ela esmaecer completamente de você. Por mais Arnaldinas no Mundo!
ResponderExcluirPor mais Arnaldinas no Mundo. ;)
ExcluirEsse texto é vida.
ResponderExcluirQue bom que gostou. =)
ExcluirQue texto!!!E eu posso dizer que fui uma das pessoas que teve o privilégio de conviver,pelo menos um pouquinho, com essa pessoa incrível que ela foi. Por mais Arnaldinas no mundo!!!
ResponderExcluirE você, o que achou do post? Me conte aqui nos comentários!
Deixe seu link para eu conhecer seu blog também. ;)