O tempo passa. 

    Tic Tac. 

    O relógio no meu pulso não me permite esquecer meu atraso para a vida. 

    Está cedo e devo ir para o trabalho apenas a tarde, mas, ainda assim, sinto como se estivesse perdendo um compromisso. Um sentimento que me assombra, como se houvesse deixado alguém especial esperando-me em um café.

    Já não estranho minha mente a mil. A constância dos pensamentos se tornou parte Da rotina, o silêncio raro. Isso é normal? A cabeça exagera nas ponderações e não dá espaço às opiniões e à voz do coração. É um período de ditadura e censura de tudo aquilo que foge ao racional. 

    É a minha mente me pregando peças, me deixando tão pé no chão que já até criei raízes que me impedem de voar. A falta de tempo para me escutar tornou-me desconhecida ao meu próprio reflexo no espelho. Já não reconheço esses olhos cansados e perdidos. 

    Quem sabe aquele alguém especial que me espera no café seja a minha antiga eu. A criança que quer me trazer de volta à vida. Quer me levar pra um banho de chuva, pra descer uma ladeira íngreme de bicicleta. Assumir riscos e desprender-me das raízes que aqui criei. 

    Quem sabe eu arranje um tempo para um café com esse alguém na próxima

semana. Agora preciso ir.

Autora: Bruna Carrion