Crescemos ouvindo que fomos feitas para procriar — uma dádiva imposta, da qual não podemos fugir.
Desde cedo, decidiram por nós que seríamos mães — uma expectativa social forte e enraizada numa visão de que, nós mulheres, somos seres maternais com o dom do cuidado intrínseco.
Ainda vivemos sob a crença de que uma mulher tem uma única missão: dar à luz. Afinal, a vida só é completa com filhos ao lado.
Seguimos carregando um peso que não pedimos e uma falta de escolha que não deveríamos ter.
Até a biologia tem o seu papel nessa história, afinal, é preciso “escolher” o rumo da sua vida antes dos 35 enquanto seu poder evolutivo ainda coopera.
“Quando vai ter filhos?” — a ideia já chega pronta, como uma ordem. Não querem saber se você quer ou não. Querem saber quando, como se nunca tivessem considerado uma oposição a tal coisa.
Mas algo vem mudando.
Mas algo vem mudando.
Contra anos de um pensamento moldado pelo patriarcado, muitas mulheres hoje dizem “não” à maternidade. E os motivos são tão diversos quanto legítimos.
Às vezes, me pergunto: estaríamos cansadas de tanto ouvir o que devemos fazer com a nossa própria vida de tal modo que isso nos fez perder o encanto pela maternidade?
Ou simplesmente aprendemos a dizer “não” ao que não nos cabe?
Independente de qual seja a sua opinião sobre isso, o movimento existe e é legítimo. Afinal, quem é que deveria pensar sobre o próprio futuro senão nós mesmas?
A pressão por engravidar nos ataca de todos os lados possíveis:
• o companheiro que quer ser pai;
• os avós que sonham com um neto;
• os irmãos que pedem um sobrinho;
• a medicina que ressalta o relógio biológico;
• e, às vezes, até a saúde chega impondo limites inesperados.
• os avós que sonham com um neto;
• os irmãos que pedem um sobrinho;
• a medicina que ressalta o relógio biológico;
• e, às vezes, até a saúde chega impondo limites inesperados.
Por incrível que pareça, muitas mulheres gabaritam essa lista. E a pergunta é: quem cuida de quem carrega todo esse peso nas costas?
Uma análise rápida em pesquisas recentes nos mostra que, em 2025, cada vez mais mulheres escolhem, com consciência e tranquilidade, não serem mães.
O movimento reflete um novo tempo, em que o adiamento da maternidade, o foco na carreira e a busca por autonomia ganham força.
Segundo pesquisas recentes, 37% das brasileiras não querem ter filhos no futuro. E os números do IBGE destacam essa virada: 16% das mulheres entre 50 e 59 anos nunca tiveram filhos, um salto expressivo em relação ao ano 2000.
Por trás dessas estatísticas estão histórias reais de quem escolheu outros caminhos: seja para investir em si, em projetos profissionais, em viagens ou simplesmente em uma vida mais sua, sem que precise atender a obrigações impostas.
Apesar de estarmos unindo forças para decidirmos mais por nós mesmas, a sociedade não perdoa.
É comum ouvir que uma mulher que não quer ter filhos é menos mulher…
Que a vida é mais feliz com filhos, como se mulheres que não são mães estivessem fardadas ao fracasso.
E a ingratidão de ter tal dádiva e não aproveitar? Enquanto algumas querem e não podem.
Ou é mesmo egoísmo por não querer cuidar de alguém, então você envelhecerá sozinha.
Enquanto isso, indo contra uma sociedade que impõe e rotula, mulheres influentes compartilham relatos sobre suas escolhas:
“Eu não tive filhos. E, acredite em mim, a vida sem filhos não é uma vida vazia. Não fui uma adolescente que sempre sonhou com uma casa repleta de filhos… Diziam: uma hora o desejo chega! Não chegou.” — Ana Paula Padrão (apresentadora)
“Nunca sonhei em ter filhos e não me sinto frustrada por causa disso.” — Leona Cavalli (atriz)
“Quando você escolhe viver à sua maneira e essa não é a da maioria, você tem que ser guerreira para aguentar o tranco.” — Rita Guedes (atriz)
“Algumas pessoas me acham egoísta… outras acham que eu tenho problema no aparelho reprodutor… outras acham que não bato bem. Colocar uma vida no mundo requer disponibilidade para criar e educar e nem todas têm essa vontade ou disponibilidade.” — Priscila Janaudis (empresária)
E aqui vai o meu breve relato também, já que preciso me justificar:
Cresci com pais casados e apaixonados — são quase quarenta anos de união, e isso sempre me inspirou. Então, sim, eu já quis ser mãe, mas pelos motivos errados.
Cresci com pais casados e apaixonados — são quase quarenta anos de união, e isso sempre me inspirou. Então, sim, eu já quis ser mãe, mas pelos motivos errados.
Acreditava que um casamento feliz dependia de filhos.
E que gostar de crianças era sinal de vocação pra maternidade.
Mas crianças crescem. E eu cresci também.
Hoje vejo que não é bem assim.
E que gostar de crianças era sinal de vocação pra maternidade.
Mas crianças crescem. E eu cresci também.
Hoje vejo que não é bem assim.
Depois de me doar tanto em tudo o que conquistei, percebi que não sonho em ser mãe — e tudo bem. Prefiro dizer “não” à maternidade agora do que aceitar por costume ou obrigação.
Além disso, sou formada em pedagogia e sei o quão importante é uma criança crescer em um ambiente moldado para seu desenvolvimento saudável. E eu não estou pronta para moldar toda a minha vida em torno de outra no momento. Isso pode soar como egoísmo para alguns, mas pra mim é apenas racionalidade e respeito ao próximo.
Se todos entendessem o peso de trazer alguém ao mundo, talvez planejassem mais antes de decidir — o que poderia evitar muitos problemas familiares, sociais e conjugais.
A verdade é que a maternidade ainda é muito romantizada. E eu acredito mesmo que seja encantadora, mas sabemos que essa é só uma de suas muitas facetas — ela é também exaustiva, solitária e, muitas vezes, injusta com quem a vive.
Um tic-tac começou a soar para mim quando, recentemente, descobri que tenho dois tipos de endometriose.
Eu, que acreditava ter tempo pra decidir com calma, descobri que meu corpo tem pressa. É um peso que eu não pedi pra carregar, agravado pela urgência do relógio biológico e pelo desejo da sociedade em julgar o que não entende.
E como decidir sobre o seu futuro quando não se sabe quem será você lá na frente?
No fim, nós só queremos autonomia sobre as próprias escolhas.
Queremos poder falar em voz alta, sem medo, o que queremos da vida.
Queremos seguir mais leves e mais nós mesmas.
Porque ser mulher já é carregar demais.
Queremos poder falar em voz alta, sem medo, o que queremos da vida.
Queremos seguir mais leves e mais nós mesmas.
Porque ser mulher já é carregar demais.
Escolha com consciência em qual lado da história você quer estar. E seja feliz com a sua escolha.
