Um conto sobre pai e filho e uma lua brilhante

by - janeiro 04, 2021

 

história de pai e filho

16 de janeiro de 2011



Estávamos em um campo ao norte da América. Decidimos viajar em família e tirar um merecido descanso depois das bagunças do fim de ano. Então, nos hospedamos em uma casa perto de uma lagoa, onde tem árvores que balançam ao vento e pássaros cantando à luz do sol. A tarde já chegou, e meu pai me leva até o balanço no jardim. Não passamos muito tempo juntos por causa do trabalho dele. Normalmente, são raros os dias que podemos sentar à mesa e falar como foi nossa manhã


Eu completei nove anos há duas semanas e não houve comemorações por causa da correria do dia a dia, mas resolvemos tirar uma semana de nosso primeiro mês do ano para ficar juntos. Meus avós moram há uma longa distância, ao sul do Texas, então não podem vir. Desse modo, somos apenas eu, meu pai, minha mãe, minha irmã mais nova, Molly, e nosso cachorro Bil.

 

Mamãe dá aulas particulares, enquanto papai trabalha no escritório. Eu e minha irmã ficamos com a babá em casa, Catarina, com seus vinte e quatro anos de idade, baixa, de cabelos escuros e pele clara. Ela está sempre no sofá mascando chiclete e assistindo a um programa aleatório de animais selvagens.


  Pai, vamos!

 

Grito, enquanto corro até o balanço. O vento estava fraco naquele típico dia de fim de tarde, o que era raro, admito. E fazia eu me sentir sozinho, conforme as semanas passavam e eu crescia. E não ter a figura paterna nem materna presentes por muito tempo é meio... triste.


Vamos lá garotão, sobe!

 

Ele me pega me sentando no balanço e começa a me empurrar. Meus cabelos voam com o vento que bate em meu rosto, enquanto Bil corria pelo jardim atrás de uma borboleta que passeava por lá.


Pai, por que não passamos mais tempo juntos? Quase não nos vemos.

 

Ele para o balanço, se agachando em minha frente.


Filho, eu trabalho, assim como sua mãe, mas prometo que tentarei ter mais tempo com você.


Tudo bem, pai.

 

Ele sorri e bagunça meus cabelos.


Vem, vamos levar Bil para passear.

 

Desço do balanço, correndo, com ele atrás de Bil. Então, passamos a tarde juntos, até a noite chegar. Eram dias bons, quando todos nós estávamos juntos daquele jeito, nem que fosse por uma semana ou por alguns dias curtos, porém únicos.
Depois daquela semana, minha felicidade não durou muito. Voltando do trabalho, papai sofreu um acidente. Bateu o carro em uma árvore. Mamãe recebeu uma ligação dizendo o que havia acontecido e tentou fingir que estava tudo bem ao me contar tudo, mas logo se desmanchou em lágrimas em minha frente.

 

O impacto havia sido forte e ele não resistiu. Não me deixaram vê-lo uma última vez. Não pude me despedir. Não tivemos o tempo que ele disse que teríamos. Apenas as doces lembranças de dias atrás.




 03 de fevereiro de 2011


Eddie, Eddie!

 

Olho para minha mãe, que está ao meu lado no banco. Estamos em uma igreja, em um velório: o do meu pai.

 

  Querido, o discurso.


Claro.

 

Digo, me levantando e já caminhando pelo piso marrom. Subo as escadinhas, para chegar ao palco. O caixão é branco e está fechado à minha frente, com coroas de flores e cruzes.

 

Vou até o microfone, à frente do caixão, e todos os olhares curiosos e chorões das pessoas sentadas nos bancos se voltam para mim. Engulo em seco e olho para baixo, mas começo:

 

  Bom, tudo bem... meu pai ...

 

Respiro fundo, tentando achar as palavras. Era para eu ter escrito meu discurso de despedida, mas eu estava acabado e adormeci.

 

Bom... é...

 

Minhas lágrimas começaram a cair pela pressão e pânico, então eu desço as escadas correndo para fora da igreja. Enquanto corro, ouço minha mãe pedir desculpas por mim. O caixão é retirado da igreja e levado para o cemitério. Já eu sou levado para casa pela minha avó, que havia vindo para o velório.


Logo que chego em casa, subo para meu quarto, abrindo a porta e já sentindo uma sensação de falta. Lembranças ... memórias... tudo me atinge em cheio. Vou até a janela e vejo a noite devorando as casas. A lua está brilhante. Meu pai me dizia que amava a lua e todas as estrela. Isso aumenta o vazio dentro de mim.


Pai, será que você pode me ouvir aí de cima?

 

Olho para a lua, e a vejo brilhar.

 

Você está aí?

 

É claro que não, estou sendo idiota. Eu sei! Me jogo em minha cama e fico olhando o teto. Meus olhos começam a pesar, e o sono acaba me levando para longe.

Me vejo em um jardim, o mesmo de dias atrás, da casa ao norte da América. Novamente, vejo o balanço e a noite a cobrir o céu. Agora, a lua desce até mim e para em minha frente. Dela, uma sombra se criou. E, da sombra, uma forma iluminada. Da luz vinda da lua, um homem... um homem apareceu. Era meu pai.

 

Não! Não pode ser ele. Eu sei disso! Ele não pode estar aqui, pois está morto, ele está... é tudo o que penso.


Eddie.


  Pai? Não pode ser... engasgo.

 

Eu disse que iríamos passar mais tempo juntos não é, garotão?

 

Ele se agacha na minha frente, ficando do meu tamanho. Minhas lágrimas rolam fortemente por meus olhos, que queimam para chorar feito uma criança.


Pai. Você não pode me deixar aqui, sozinho... não pode!


Filho, quando se sentir sozinho, olhe para a lua e eu estarei lá. Ele sorri e me abraça.

 

Até logo, filho.


Acordo com Bil lambendo meu rosto. Me viro na cama e percebo que estou chorando. Seco minhas lágrimas, me levanto e vejo a lua a brilhar. Tão linda. E, por mais estranho e maluco que possa parecer, sinto que a vi sorrir para mim.


Autora: Isadora Vaz


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