Pandemia de Covid-19: uma carta sem endereço

by - janeiro 27, 2021


pandemia covid19

Gostaria de dizer que sinto muito, mas não posso porque não sei quem são. Gostaria de dizer que é injusto, mas quando a vida foi o contrário disso? Eu queria dar um abraço nessa gente, gente da gente, gente como a gente, gente que está se perdendo por perder aqueles que estavam ali, vivos ao lado, sorrindo, vivendo... Mas nem abraço é permitido mais.


Sabe, sempre sonho coisas estranhas. Perseguições, gente que nunca vi, coisas sumindo, explodindo, sentimentos esquisitos, essas coisas que a gente não lembra ou não consegue sequer contar a alguém porque as peças não encaixam. Mas nunca tive um pesadelo como este.

 

Às vezes, acordo procurando alguém que possa me contar que acabou. Que na verdade não foi isso que eu vi, que foi uma miragem, algo inventado, escrito por um tal de Stephen King ou George Martin.


E o que eu vejo? Nada. Apenas silêncio, exceto pelo áudio da TV e as imagens de horror que sou obrigada a ver.


"Ah, mas você poderia desligar". Não, não posso. É o mínimo que posso fazer, não entendem? Eu tenho que, ao menos, lamentar por eles, eu tenho que ter consciência disso, não posso me isolar numa bolha dentro da minha própria bolha para não ver a realidade. Eu tenho que sofrer junto, porque devo isso ao meu espírito de humanidade. Devo isso a todos eles, que não conheço, mas sinto.

 

Gostaria de dizer que meus sentimentos são deles agora, mas a única coisa que consigo fazer é isso aqui: escrever. Então, isso que você está lendo, é para você mesmo, que perdeu alguém, que sentiu a desilusão da vida te abater, que chorou e ainda chora por tudo isso, por ver de pertinho toda essa destruição em massa da nossa sociedade, uma sociedade injusta e totalmente desigual, mas ainda assim humana. E eu sofro pela humanidade desde que reconheci que faço parte dela, aconteça o que acontecer.


Não vou segurar sua mão, mas vou te dizer que sim, sinto muito por tudo isso. Espero que um dia você volte a ficar bem.

E que você, que não perdeu ninguém, reconheça quem perdeu e cuide para que não seja o(a) próximo. Cuide de si e de quem você ama. Cuide de nós daí, enquanto eu cuido daqui. Se todos nós cuidarmos, podemos minimizar toda essa dor que é perder aquilo que um dia foi tudo na sua vida.

 

O momento que a gente vive reflete muito em quem somos. Há quem diga que somos isso e aquilo, de uma forma exata. Mas às vezes acho que somos mesmo é feitos de momentos, sabe? E mudamos de acordo com o clima.

 

Neste momento, em que uma pandemia estourou e engloba o mundo inteiro, sou apenas um eco de medos e incertezas. Às vezes, tento ser forte, confesso, mas nem sempre é possível revisitar nossas armaduras para a luta da linha de frente.

 

Então, me deixo ir. Não é por ser fraca e aceitar tal rótulo, mas é por não ser obrigada a me obrigar a ir além de mim mesma.

 

Você não precisa demonstrar fé o tempo todo e lutar contra o medo do momento. Apenas tente respirar, segurar firme na mão de quem ama e não esmorecer com um mundo que cai ao nosso redor. Talvez seja o momento de sermos humanos antes de panfletário da esperança. Que sejamos solidários antes de curiosos. Que sejamos afeto, ombro amigo, consolo e abrigo a quem precisa de nós.

 

Mas, acima de tudo, que sejamos conscientes do que fazemos e do quanto contribuímos, positiva ou negativamente, com o colapso ao nosso redor.

 

E nunca esqueça que de uma coisa é certa: a gente precisa da gente.

(Sâmela Faria)

 

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3 Recados

  1. Sao ótimos mas busco algo que possa preencher meu Espírito minha Alma anseia por algo que não consigo explicar aonde se torna difícil de encontrar

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    1. Olá! Não sei se entendi o que você busca. Nosso blog é sobre literatura e escrita, temos vários textos com os quais você pode se identificar. Veja no tópico "Textos para alma". Espero que goste!!

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  2. Sao ótimos mas busco algo que possa preencher meu Espírito minha Alma anseia por algo que não consigo explicar aonde se torna difícil de encontrar

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