Me vejo aqui, mas nem sempre estou de verdade. Às vezes estou tão longe
que nem sei mais como voltar. Me perco. Me desfaço. Me desmonto. Sou tudo
e nada ao mesmo tempo, simplesmente porque não sei mais o que ser.
Meus pés formigam querendo me levar. Meu coração palpita e diz que sim, suplicando,
sem que eu note, um por favor tão singelo como só ele sabe sussurrar. Eu
sinto, claro, mas não consigo decifrar mais. Já não sei mais o que é sonho,
poeira ou frio na barriga por algo novo.
É difícil desejar mudança quando nossa alma já acomodou em um corpo
desconexo da mente. A mente vagueia para longe, mas o
corpo não acompanha porque não sabe como ir sem que tudo vá junto, sabe? Olho em
volta e o que vejo defino em uma única palavra: desespero.
E sabe quando a gente quer algo, mas não sabe o quanto? Talvez seja o
medo do que vamos deixar para trás. Talvez seja o medo do que vamos encontrar
lá na frente. Mas o fato é que há algo incômodo nisso tudo: é quando a mente
grita socorro e o corpo não sente porque já ficou bom demais em fingir estar
tudo bem.
E aí fica tudo bem. Pelo menos por horas. Até que tudo fica meio
embaçado novamente e você já não sabe mais o que é miragem, o que é real ou se
é apenas porque leu um livro no qual a protagonista vivia, não apenas existia. E
então você quer viver também.
Não sei definir. É uma sensação de desconforto por estar confortável.
Por saber que não deveria ser “só” isso. Que é frio demais sem motivos. Que
não faz arrepiar os poros. Que não fisga sua atenção... é simplesmente parado
demais para ser realmente bom.
E você decide que quer mais.
E é quando descobre também que não dá para sair da zona de conforto se
for para sucatear a si mesma(o). Mas, quer saber? Abro mão da certeza, do bem-estar,
da falta de bagunça e até das sensações de que tudo está no lugar, embora eu
odeie a desordem.
Mas é que se for para desordenar os passos e acertar o coração, eu
aceito.
É com medo que vou, mas deixar de ir é existir. E eu quero viver.
