Caro passado,

by - maio 22, 2018



Parece que foi tão recente o nosso surto em se aproximar, mas revendo as datas nos calendários novos de cada ano, vejo que tudo foi tão rápido, mas tão rápido, que nem chegou a acontecer. Tivemos tanta oportunidade em nos levar pelas próximas esquinas e postes da cidade, mas isso não procedeu. O ontem foi algo tão entorpecente que nem valeria a pena citar.

Estávamos no caos da insensibilidade humana, e o nosso extremo acaso de encontros nos empurrava para o fundo a cada dia. E quando chegávamos lá, fazíamos de tudo para voltar, sem contestar um ao outro. Você não disse, eu também não. Nós tínhamos o mesmo a dizer, talvez, mas ninguém resolveu estourar a bolha de orgulho que nos enfeitava. Mas foi melhor assim, você sorriu para mim, e eu não mais pensei em dizer tudo o que eu já devia ter dito há algum tempo. Agora que tudo já foi, não mais temos necessidade em falar.

As palavras sumiram e o desejo em abrir o coração também. Já deu o que nem chegou a dar. Podíamos ter escrito histórias juntos. Ter tido umas vírgulas em meio ao vão que nos separava. No entanto, ficamos com o  nada, nem vírgula, nem ponto final. Como terminar algo que sequer começou? E quando algo que se espera muito acaba não acontecendo, nós ficamos frustrados. Pode ser que isso tenha sido realmente o melhor, cada um em sua calçada, sem piscar para olhar para o lado e chamar pelo nome do outro. Já não faz mais a menor importância.

Será que um dia realmente fez?

Afinal, o que foi que nos levou a pensar que faria? O tempo te fez bem, já não há mais manchas em seu coração, porém teu riso ainda é como um alívio. O tempo nos fez bem. E é assim que eu prefiro pensar, até por que não há sequer vestígios seus em mim para que eu possa lembrar. Não há você em nenhuma anotação minha, nem em nenhum riso, em nenhum abraço inesperado. Nenhuma lembrança, porque, na verdade, nunca houve você. Nem eu. Nada sobre você e eu passou, porque não houve o que passar. Muito menos o que ficar.

E se nada fica, não há o que se possa lembrar. Se nada fica é sinal de que nunca houve algo de verdade, talvez fosse apenas fantasia ou algo que sonhamos ainda acordados. Mas de uma coisa tenho certeza: não há história de amor quando os protagonistas não encenam juntos. O amor é muito mais que juras, sabe? Descobri que nada fica quando nada tem para ficar e devo isso a você. Afinal, não foi você quem foi sem sequer ter vindo? Obrigada por não ter batido na minha porta.

Mas, agora, querido passado, faça o favor de fazer o que é destinado a fazer: passe.

Troque o nome "passado" por quem quiser e leia novamente.

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