#Resenha: Não conte nosso segredo – Julie Anne Peters

by - setembro 24, 2017


Título: Não conte nosso segredo
Autora: Julie Anne Peters
Páginas: 304
Ano de publicação: 2017
Onde comprar: Saraiva / Amazon

Corte o final. Revise o roteiro. O cara dos sonhos dela é uma garota.”
A História
Não importa quem, quando a gente ama, quer estar junto. Não importa quando, quando a gente ama, precisa ficar. Não importa como, quando a gente ama, a gente ama e pronto.
A não ser, é claro, que isso venha contra os padrões sociais. Porque, se isso acontecer, então será o seu fim.
Holland experimentou toda essa sensação. Não se trata de um amor proibido, se trata de um amor aniquilado, julgado como incerto, sujo. Como se fosse um insulto à humanidade. Holland se tornara um insulto quando, à beira do “não sei quem sou nem para onde vou”, se depara com mais um dilema: ela ama alguém que não pode amar. E, como eu disse, não se trata de um romance proibido, se trata de um amor que vai contra os padrões. Holland é uma garota que ama uma garota.
O quê? Que absurdo…
Sapatão?
Não podemos deixar...
Mas como pode? Se ela namora um garoto?
Holland está passando por um período difícil em sua vida quando não se sente mais parte dela. Há algo fora dos trilhos e ela não sabe o que pode ser. Afinal, ela é uma garota linda, tem um namorado lindo, uma família que a ama, é integrante do conselho estudantil, tem melhores amigas e o que mais poderia pedir? Com certeza não seria toda a reviravolta que sua vida dá tão de repente, lhe apresentando a verdadeira face injusta e cruel de uma sociedade preconceituosa e desigual.
No entanto, agora ela está sendo ela mesma. Agora ela se sente inteira. Viva. E o mundo inteiro precisa saber de seu amor…
Mas é provável que ninguém queira ouvir.
O que fazer quando você se aceita, mas não é aceita por se aceitar?

Personagens principais
Holland é uma jovem incrível que tem tudo que uma garota poderia desejar. Ela é popular em seu colégio, é linda, todos a respeitam, ela é do conselho estudantil da escola, é boa aluna, namora um cara incrivelmente lindo, só há um problema: ela não é mais essa pessoa. E talvez isso não seja bem um problema.
Holland está em uma passagem de descobertas em sua vida, ela anda descobrindo muitas coisas ultimamente, principalmente sobre si mesma. Sobre quem é de verdade. Ela está no último semestre da escola e, agora, as escolhas e decisões sobre o futuro estão por vir. No entanto, estaria ela preparada para tomar tais escolhas se ainda não se encontra inteira? Se ainda não se sente ela mesma? Ela nada. Nada, nada, nada. Talvez por querer mergulhar e, quando voltar às margens, se encontrar em outro lugar. Talvez por não estar se encontrando no raso, buscando solução no profundo. Mas uma coisa é certa: ela não quer estar ali. Não como quem é hoje, porque, agora, ela descobriu ser outro alguém. E isso aconteceu logo quando ela prendeu seus olhos nos olhos dela: Ceci. E é exatamente aí que Holland vê seu mundo inteiro, perfeitinho demais, desmoronar…
Ceci! Ah, Ceci. Sabe uma garota determinada? Do tipo que rasga o verbo e, mesmo que esteja com medo, arrisca? Ela se chama Ceci. Ceci é uma loira bonita, porém não como todas as outras. Ela é totalmente diferente. Ela causa sensações diferentes. Ela prende o coração de Holland com apenas o olhar. Ela é gay. Assumidamente gay. E deixa isso bem claro em suas camisetas diárias, suas atitudes e movimentos. É claro que ela luta pelo movimento LGBTQ+. É claro que ela luta por ela, todos os benditos dias. Mas ela também tem medos. Segredos. Mas ainda faz de tudo para permanecer de pé.
Ela é nova no colégio e, bem, injustamente, como só a sociedade sabe ser, não é bem aceita onde está. E, todos os dias, ela precisa lidar com uma série de preconceito e discurso de ódio gratuito. Ela é delicada, apesar de parecer mais durona. Quando põe seus olhos em Holland, ela simplesmente sabe. Sabe também que Holland ainda não sabe, então a permite se encontrar sozinha. Ceci a quer, mas precisa que Holland queira também, sem ajuda. Ver o amor da sua vida com outro não é a coisa mais legal do mundo. Mas Ceci suporta tudo. Ser exposta à uma sociedade cruel e injusta talvez seja realmente a coisa pior do mundo, mas Ceci está de pé, simplesmente por não poder desistir de quem realmente é.
Personagens secundários
Seth é o melhor amigo de Holland, mas ele é também seu namorado. Um cara lindo, com corpo bonito, que trata bem sua namorada, que se importa com seu futuro e objetivo de vida e que quer compromisso sério, quem não gostaria, não é mesmo? Essa pessoa se chama Holland. Não tem a ver com Seth. Ele é bom. Tem a ver com quem ela é. E ele fica totalmente irritado quando descobre.
Faith é a meia-irmã de Holland. Ela não mora com Holland, mas passa uns dias por lá, portanto, acabam dividindo um “quarto”. Ela tem um estilo singular, é gótica declarada e tem uns rituais que adora praticar, mesmo que a irmã a implore para não fazer isso no mesmo ambiente que ela. O jeito de Faith é rejeitado pela madrasta, mãe de Holland, e até mesmo por Holland, então ela não tem bom relacionamento com elas.
Leah é amiga de Holland desde a infância. Ela é uma boa amiga e está sempre querendo ajudar, se encontrar, voltar aos velhos tempos de amizade. E, o melhor de tudo, não é do tipo preconceituosa.
Kirsten é amiga de Holland e Leah. Pelo menos é o que parece. Ela é uma menina um pouco fútil e completamente preconceituosa. Se preocupa demais com as aparências. Ela é o tipo de amiga que ninguém desejaria ter se a conhecesse profundamente.
Capa, escrita e detalhes
A capa é a coisa mais linda! Eu amei! Romântica e tudo, mas o que mais me chamou a atenção foi a delicadeza retratada. Achei demais.
A escrita da Julie é extremamente fluída. Li o livro muito rápido. É uma escrita nada melancólica, sabe? Não é enjoativa, que nem às vezes encontramos em romances. E é uma escrita que retrata bem os personagens. A única coisa que senti falta foi de detalhes do tipo de fisionomias, pois eu não consegui decifrar bem essa parte das protagonistas, então tive que me prender ao retratado na capa. Hehe.
Os detalhes da história são todos voltados às descobertas que Holland faz em sua própria vida. Mas também há toda uma história que ronda em volta de Ceci, desde sua família, seus momentos, sua vida. Achei bem interessante a autora ter apostado nos dois lados da moeda: de um lado temos uma família que não aceita de forma alguma que a filha seja gay, e de outro temos outra família que aceita melhor, que está se adaptando a isso aos poucos e que jamais desamparou sua filha por causa disso. E foi importante para nos fazer pensar sobre nossas atitudes também. Sobre de qual lado nós nos encontramos. Afinal, que tipo de família somos/seremos?
Inclusive, o ponto alto do livro é a aceitação de quem se é verdadeiramente. E o pior disso tudo é saber que mesmo que você se aceite, a sociedade poderá não aceitar, como se alguém pudesse dizer como devemos ser. Quem é a sociedade para isso? Somos quem somos e ponto. E o mais legal, que eu consegui sentir, foi que a protagonista não passou por uma série de não-aceitação, sabe? Ela foi, aos poucos, sentindo e aceitando o que estava sentindo, porque é lindo. Porque é bom. Não faz mal a ninguém.
Até que os acontecimentos crués da sociedade de merda vêm para determinar como deveríamos ser.
E então a gente sofre junto com os personagens. A gente se doa junto deles e compreende perfeitamente o que é passar por isso, mesmo nunca tendo passado.
O único ponto negativo que encontrei, sinceramente, foi no final. Eu não engoli. Só isso não bastou para mim, sabe? Eu precisava de mais. Não foi assim que eu desejei. Não foi isso que imaginei para Ceci e Holland, portanto, eu achei que faltou umas páginas que pudessem redigir um pouco mais sobre esse amor. Sobre o depois.
Conclusão
Conclusão? A conclusão que cheguei não é nova. É a que vemos todos os dias, o quanto somos preconceituosos e o quanto práticas gratuitas de ódio são distribuídas ao que não conseguimos entender. Ao que nos é novo. Diferente. Fora do padrão criado e seguido à risca por uma sociedade cega e controlada.
O livro nos faz olhar para nossas próprias atitudes. Aquelas que muitas vezes nem percebemos e acabamos reproduzindo. Ao rir de uma piada ofensiva. Ao não fazer nada quando ouvimos discurso de ódio gratuito aos “fora do padrão social”. Ao nos retraímos na presença de um “deles”.
Entre. Muitas. Outras. Merdas. Dessas.
Estamos lidando com pessoas. Pessoas como nós, sabe? Mas que, ao contrário de muitos, ligaram o foda-se e decidiram se amar.
A transformação da protagonista nos dá um tapa na cara. Ela muda drasticamente e precisa lidar com um mundo totalmente novo, mas jamais abaixa a cabeça, sabe?
Eu amei o livro. Amei o romance. Amei as protagonistas. Ceci é puro amor. Holland é do tipo sincera, que fala na lata e que aceita mudanças de forma magnífica.
Super recomendo o livro.
Para. Todo. Mundo.
Citações Favoritas
Essa sensação de inércia me deixou petrificada. Às vezes, eu me pegava mirando meu reflexo nas janelas e me indagando quem eu era, aonde estava indo. Então a imagem mudava e não era mais eu, apenas a sombra nebulosa de uma pessoa. Um metamorfo vazio, frouxo.”
A vida era mais fácil quando éramos crianças. Não girava em torno das mudanças, das escolhas e de seguir adiante. Vivíamos o momento. O tempo era eterno.”
Por que ela fazia com que eu me sentisse balançando à beira de um precipício? Um passo em falso e eu mergulharia no abismo.”
Às vezes, eu tinha a sensação de não haver amanhãs, de que tudo, toda a minha vida, estava embutida em um único e interminável dia.”
Mas, a cada vez que eu voltava, ela desaparecia. Como se fosse uma miragem. Ou uma ilusão. Era isso, uma ilusão. Assim como minha vida… uma realidade, só que fora de alcance.”
Poderia me perder entre os escombros. Ainda assim, ela fazia com que me sentisse mais viva do que nunca. Passarinhos azuis, borboletas no estômago e fogos de artifício.”
Estavam errados quando chamavam isso de “estar no armário”. Era uma prisão. Confinamento em solitária. Eu estava trancada do lado de dentro, dentro de mim, no escuro, com medo e sozinha.”
Confiança. Tudo isso tinha a ver com confiança. Você não tem nada, a menos que possa confiar na pessoa que ama.”
Nota da leitura: 

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