Um nada no meio de tudo

by - fevereiro 20, 2017


Naquele dia nada mais importava. Eu já não tinha mais uma ânsia em retas paralelas. Nem em curvas perigosas. O que eu tinha em mente era um tremendo nada. Um vácuo mais profundo que meu próprio coração em situações críticas de falta de carinho. Sabe quando você vai indo sem esperanças? Acontece que, tem hora que o tempo já não te diz muita coisa. Que o sol já nem faz mais diferença, porque, seu dia parece uma tremenda nudez constante. O nublado alcança a alma de um jeito que nem importa mais se vai chover ou não. Dias sem luz parecem fazer mais efeitos quando estamos com um ar de tanto faz para tudo. Ou para maioria das coisas. A cor preta torna-se um baita colorido e se repete de segundo em segundo. O relógio estava parado na minha mesma linha de pensamentos. 
Naquele dia, nada mais importava. No entanto, que será que já havia importado tanto? 
Não adiantaria alguém bater na porta e perguntar o que estava acontecendo. A música tocava tão alto que eu mal podia ouvir meus pensamentos. O objetivo era não pensar. Não colocar os miolos para trabalhar. Eu só queria ficar ali, no meio de toda minha petulância pelos rumos da vida. Eu só queria silêncio de humanos. Um tempo de pessoas. E de mim também. É que tem dias que você precisa de paz interior, de mergulhos mais rasos, não tão profundos quanto costumam ser. E eu estava apenas precisando desabrochar um pouco mais. Dar asas à minha mente para voar até onde quisesse. Tem hora que chega de chegar tanto, que nunca é o suficiente. Precisava ver o brilho nos meus olhos e saber de onde veio, por que existe, e como sobrevive esse tempo todo.
A fome já havia ultrapassado meu estômago e chegado ao coração. A impaciência que havia me atormentado a manhã toda, já nem fazia mais cócegas. Mas eu ainda estava ali. Da mesma forma que acordei da noite mal dormida e mal sonhada. Mal idealizada. De idealismo mesmo, só havia me restado os sonhos. Andava mesmo precisando carregá-los com mais afeto. Mais determinação. E era isso que eu menos tinha naquele momento. Tudo era escuridão. Sabe quando você tá acordado, porém não quer sair da alma? Se você leu ou pensou em cama, sabe bem do que estou falando. Os pensamentos flutuavam nas nuvens e nem por isso me sentia firme. O medo passava pela garganta seca, em busca de algo para ser dito. Algo que poderia ter levado um tempo para se formar, para se criar. Entretanto, para mim, só o silêncio era companhia.
É assim que a gente repete os dias quando não queremos mais tirar o pé da cama. Foi assim que eu sobrevivi àquele dia todo. Um todo tão confuso que eu não sei mais o porquê da alma parada. Da falta de lavagem no interior mais que profundo. Era do razoável que eu precisava. Porque estava sendo tudo demais. Tudo repleto, muito cheio. E os dias tornaram-se carregados, sobrecarregados. Indizíveis, com um aspecto fosco, semblante recaído. Como se a vida não fosse assim tão boa – apesar de nem sempre ser – para querer se viver. Como se os dias fossem mais passageiros que esse estado intocável que nos encontramos, assim meio do nada. 
Às vezes, precisamos de uma boa sacudida, dessas de fazer os enfeites cair no chão. Mas outras vezes, precisamos de um silêncio ao todo, desses que nem ruídos do lado de fora penetram. São dias de um nada no meio de tudo, que eu chamo de buscar a si próprio. E o verdadeiro sentido da sua própria existência.

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